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4 de abr. de 2010

Paixão do Cristo negro

Santa Rosa encarna o Cristo Negro: personagem de vida - (Zuleika de Souza/CB/D.A Press )
A Paixão do Cristo Negro existe há 14 anos em Samambaia. Nasceu com viés politizado, dialogando com a Teologia da Libertação, de Leonardo Boff, os postulados do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, e a Antropologia Teatral, de Eugenio Barba. Na base está uma mocidade vinda das Pastorais da Juventude, forte braço social e político da Igreja Católica. Gilberto Alves, que viveu Cristo por alguns anos, traz no discurso a convicção de que a Paixão é ponte de reflexão com a comunidade esquecida pelos poderes públicos. — É importante sempre dialogar com os dias atuais. O Sermão da Montanha que utilizamos é do Leonardo Boff. Vamos dialogar, neste ano, com o tema da Campanha da Fraternidade: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mateus 6, 24c), destaca Gilberto. — O racismo, o preconceito, todos os tipos de violência, opressão e miséria estão ligados naturalmente à Paixão. Queremos que a comunidade se identifique com o sofrimento deste Cristo, hoje crucificado pela fome, pelo preconceito, completa Verônica. Ética crucificada É evidente que o potente conteúdo da Paixão do Cristo Negro vai fazer o espectador pensar, por exemplo, na “Oração da propina”, constrangedor episódio envolvendo deputados distritais, que se diziam cristãos e embolsavam escuso dinheiro. Mas não haverá nomeações diretas. — A Paixão do Cristo Negro fala de ética e a ideia é conscientizar por meio do teatro essa crise de valores da sociedade. Questionar esse conceito do “rouba mas faz”, que está internalizado em populações menos esclarecidas, pontua Gilberto. Encenada em cidade cenográfica, a via-sacra de Samambaia tem raízes multiculturais, étnicas e pontuada pela diversidade. Apesar do evidente apoio da Igreja Católica, os atores tem crenças diversas. Verônica conta que uns são evangélicos, outros espíritas e alguns praticantes das religiões afrobrasileiras. Nas cenas de dança, há sons da periferia e da cultura popular como rap do hip-hop, o berimbau da capoeira. São mais de 300 atores e não atores. Alguns descobriram, na Paixão, os caminhos do teatro. O que faz Verônica Moreno, diretora, atriz e arte-educadora, inflar de orgulho. — Tássia Aguiar e Josuel Júnior, que são meus assistentes de direção, começaram na via-crucis. Hoje, os dois fazem teatro profissional, comemora Verônica Moreno, cuja filha Jéssica cresceu vendo o burburinho em torno do Cristo Negro. — Ficava ali no meio do povo e lembro das pessoas fazendo uma círculo com as mãos para proteger os atores durante a encenação, conta a garota, que agora dança sob a coreografia de outro filho da diretora, Paulo Russo. Verônica Moreno sentiu que a ideia do Cristo Negro vingou quando uma senhora, diante da encenação, chegou próximo a diretora e sussurrou emocionada: — Eu posso tocar em Cristo? Verônica sorriu e balançou a cabeça positivamente. O toque é mesmo o fim das barreiras entre os indivíduos. Origem popular Quando a Paixão do Cristo começou em Samambaia, tudo era improvisado: figurinos, cenário e adereços. Não havia também a ideia do Cristo Negro assim tão esboçada. A preocupação era mesmo fazer algo que dialogasse com aquela comunidade, que estava ali esquecida pelo poder central do Plano Piloto. As pessoas perceberam que os atores tinham a cara do povo. Daí, foi a origem do Cristo Negro. No início, lá em 1997, o espetáculo era itinerante e o povo passeava diante de “várias misérias” para que a conscientização ficasse bem evidente. Com o tempo, veio o espaço limitado para a construção da cidade cenográfica, numa festa que hoje dura três dias.

Personagem da notícia

Verônica Moreno (foto) é uma cearense que um dia pensou em ganhar dinheiro fazendo humor nas barracas de Fortaleza. Atriz e arte-educadora formada pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (FADM), terminou o casamento por conta do teatro. O ex-marido pediu para ela se decidir entre a vida familiar e o palco. Ela gargalha quando lembra desse impasse. Hoje, além de comandar com disciplina e fé as centenas de atores e técnicos da Paixão do Cristo Negro, Verônica encara a personagem nordestina de Ilhar, em cartaz até hoje no Teatro Caleidoscópio. Na peça, ela vive uma senhora consumida pela solidão e as dores do sertão. O texto e a direção são do filho Paulo Russo. Tem ainda cenografia dos irmãos Adriano e Fernando Guimarães e a participação de Wanderson Barros (garoto que se revelou em Paixão do Cristo Negro). Um esquete da montagem venceu o I Festival de Cenas Curtas da Faculdade Dulcina de Moraes. ILHAR Teatro Caleidoscópio (CSLW 102 Bloco C, Galeria Sudoeste; 3344-0444). Hoje, às 20h. Direção e dramaturgia: Paulo Russo. Ingressos: R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 10 anos.

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